sexta-feira, 16 de março de 2012

Paçoca de Amendoim.

A palavra Paçoca tem sua origem no Tupi Guarani "po-çoc", que significa esmigalhar. Pois é assim mesmo, esmigalhando o amendoim com farinha e açúcar que obtemos esse típico doce da culinária caipira, no Estado de São Paulo. No Vale do Paraíba já vem de longa data o seu consumo durante o período da quaresma, esta que estamos vivendo hoje e que antecedem à Páscoa, festa anual do Cristiano em memória do Cristo ressucitado. Ela também é muito bem vinda nas festas juninas e pelo seu alto índice energético,tornou-se complemento indispensável nos tão consumidos sucos de Açaí.
Lendo a respeito da Paçoca encontrei uma definição que me trouxe à memória os tempos de infância " O preparo da paçoca para a Semana Santa, vai além da culinária em si, é um ritual cristão de valorização do amor e da harmonia em família". ( Fonte:Wikipédia)
Harmonia em família. Durante a Semana Santa minha mãe e minhas tias, irmãs dela, passavam o dia juntas preparando a Paçoca enquanto eu e minhas primas brincávamos. O processo era trabalhoso e exigia paciência. Elas torravam o amendoim, depois tiravam a casca. Em uma grande bacia misturavam  farinha de milho amarela, amendoim e açúcar. No tempo da mãe delas, minha avó, a mistura era socada em um pilão de madeira. Tudo era muito bem esmigalhado e depois passado na peneira. O que sobrava voltava para o pilão para novamente ser esmigalhado e repassado na peneira. O processo era repetido tantas quantas vezes fosse preciso até que a mistura ficasse bem fina. Minha mãe e minhas tias, já "moderninhas", moiam tudo em um moedor de café, mas ele não era elétrico, era no braço. Elas se revesavam, para não cansar muito uma só. Peneiravam a mistura, voltavam tudo no moedor. Riam, conversavam, discordavam, chegavam em um acordo, se revesavam e no final da tarde repartiam o trabalho do dia. Cada uma voltava para sua casa harmonisadas e, claro, com uma porção de Paçoca.
Bem, que tal se animar e preparar uma paçoca caseira? Como nossa geração é mais "moderninha" não vamos precisar fazer tanto esforço físico,um triturador já ajuda bastante. Claro que não fica igual aos esmigalhados no pilão ou na velha maquininha de moer café, mas o que vale é o ritual. 
Reuna a família e quem mais você ama para participar desse momento. Por experiência própria eu garanto que será uma bela memória, intocada onde nada, nem o tempo tão pouco as cirscuntâncias, poderá mudar o cenário.

Paçoca Caseira de Amendoim

500 gramas de amendoim torrado e sem pele
500 gramas de farinha de milho amarela
2 xícaras de chá de açúcar fino
1 pitada de sal

Misturara bem todos os ingredientes em uma bacia. Colocar a misturas, aos poucos, no triturador. Passar na peneira, o que sobrar levar novamente no processador. Essa etapa é importante para que a Paçoca fique bem fininha. Se gostar de um pouco mais doce pode ser acrescentado mais uma xícara de açúcar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Literatura- Mestre Calangueiro Ernesto Villela


"Há algum tempo Maria da Cruz, morena esguia que vivia freqüentando as festas na roça, ocupava a mente e o coração do Caboclo. Naquela noite durante a festa, Jeremias foi chamado de cachaceiro pelo desafiador, “Caboclo que inda ia morré de tanto bebê”.
No final do desafio improvisado Jeremias buscou o olhar de Maria da Cruz no meio da multidão. Sem negar seu triste fim cantou;

Oh morena bunita, num mi dexa morre
Sem antes dança com ocê”.

Ela sabia que o rapaz era casado e por isso nunca permitiu qualquer tipo de aproximação, porém, no final daquele desafio, a platéia interferiu se manifestando com palmas, motivando Maria da Cruz a dançar com Jeremias. Ele largou a sanfona e seguiu ao seu encontro. Dançaram enlaçados a noite toda e Jeremias não tomou um gole se quer de cachaça. "
                                                                                  
                                                      Trecho do livro " Memória Cabocla"- Dinamara Osses


 Na literatura encontramos bons escritores do Vale do Paraíba que destacam em suas obras a riqueza do universo caipira. Hoje vamos indicar o livro "Mestre Calangueriro- Ernesto Villela" escrito pelo atual Diretor da Fundação Cultural de Jacarehy, Alcemir Palma. O livro/CD está na 2º edição, a primeria foi lançada em 2000, sendo o único trabalho com registro escrito e fonográfico do Mestre Calangueiro Ernesto Villela. 

Mas o que é o Calango?
Um estilo de dança e canto que teve sua origem em Minas Gerias. Existem vários registros com várias definições,entre elas podemos citar Teo Azevedo;

"Canto e dança de origem cabocla. O calango é dança de roda que pode ser cantada de improviso, ou versos decorados. O acompanhemento base é: sanfona, violão, viola, pandeiro, etc."

Segundo o autor do livro, em São José dos Campos a dança foi se dissolvendo e prevaleceu "as formas musicais de desafios ou porfia e embalados que ocorre diante de uma platéia interferente, que se manifesta através de palmas, do riso e de urras diante da maestria do calangueiro."

Ernesto Vilella teve seu primeiro contato com o Calango na década de trinta com os mineiros que vieram trabalhar no Vale do Paraíba. Em suas letras está a graça do sotaque caipira que trás a sabedoria do homem simples. 
Vale registrar que o Mestre Calangueiro era analfabeto, mas sua memória foi terra fértil de onde brotaram seus versos.